Duas instituições de pesquisa proeminentes confirmaram há algumas semanas, o que os cientistas pensavam há muito tempo: os Recifes de Coral de Água Quente do Mundo estão branqueando em massa pela quarta vez em 25 anos.
Corais são coleções de centenas de milhares de pequenos animais. Muitas vezes formados de cores variadas, eles se tornam brancos quando estão sob estresse, o que pode ser um precursor de sua morte.
Os cientistas acreditam que o aumento da temperatura dos oceanos, impulsionado em parte pelas mudanças climáticas, é responsável pelo último evento de branqueamento, que se estendeu do Panamá à Austrália – e está piorando.
Especialistas dizem que os corais estão entre os ecossistemas mais vulneráveis do planeta às mudanças climáticas. Essas cidades submarinas, que sustentam 25% da vida marinha, podem praticamente desaparecer até o final deste século.
"A perda de corais seria uma verdadeira tragédia do ponto de vista da biodiversidade e da economia", diz Letícia Carvalho, chefe do Ramo Marinho e de Água Doce do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). "Seria devastador para um dos ecossistemas mais ricos do nosso planeta azul e centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que dependem da pesca costeira."
Aqui está um olhar mais atento sobre o evento global de branqueamento e o que ele pode significar para o futuro dos corais do mundo.
Os corais podem ser encontrados em todo o oceano, desde as águas calmas do Mar Vermelho até as profundezas geladas do Atlântico Norte. Mas talvez os mais conhecidos vivam nas águas quentes e rasas dos trópicos, onde formam recifes deslumbrantes e multicoloridos.
No coração de cada coral individual está um pólipo, um animal claro, em forma de tubo, com um anel de tentáculos que usa para capturar presas. Alguns corais cercam-se de um esqueleto calcário forjado a partir do cálcio absorvido da água do mar. Os corais obtêm sua cor de milhares de organismos semelhantes a plantas conhecidos como zooxantelas, que vivem dentro dos corais e lhes fornecem alimento. É uma relação simbiótica fundamental para a saúde dos ecossistemas recifais em todo o mundo.



Apesar de seu exterior resistente, os corais de água quente são criaturas sensíveis. Quando a temperatura da água sobe, eles ficam estressados e expelem suas zooxantelas, deixando-os propensos a doenças e fome.
É por isso que os pesquisadores estão tão preocupados com uma onda de calor que varre o oceano. Desde o início de 2023, as temperaturas da água subiram até 5°C em alguns lugares. Em fevereiro de 2024, a temperatura média global da superfície do mar havia passado de 21°C, um recorde. Apenas algumas semanas depois, talvez a coleção de corais mais famosa do mundo, a Grande Barreira de Corais, estava assando sob um calor sem precedentes.
Águas mais escuras representando águas pelo menos cinco graus mais quentes do que o normal.
Os pesquisadores dizem que uma combinação de mudanças climáticas e o evento climático El Niño estão impulsionando as temperaturas recordes da superfície do mar.
Como um incêndio florestal que se move pelo mato, a onda de calor oceânica devastou os corais. Os cientistas registraram branqueamento em 53 países de fevereiro de 2023 a abril de 2024, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos e a Iniciativa Internacional de Recifes de Coral, que é apoiada pelo PNUMA. Esse número, segundo dados americanos, subiu para 62 países.
Entre as áreas mais atingidas está a Grande Barreira de Corais, onde quase 80% dos afloramentos de corais branquearam, de acordo com um relatório do governo australiano.
Corais ao longo da Grande Barreira de Corais se tornaram brancos enquanto uma epidemia de branqueamento varre o Patrimônio Mundial da ONU
A Grande Barreira de Corais chamou mais atenção, mas pesquisadores dizem que situações semelhantes estão acontecendo no Mar do Caribe, no Atlântico Sul, no Mar Vermelho, no Golfo do México, no Oceano Índico Ocidental e nas águas do Leste Asiático.
Recifes que antes estavam repletos de vida foram reduzidos ao que Letícia Carvalho do PNUMA chamou de "cemitérios", cheios de carcaças cinzas e brancas de corais mortos e moribundos.
Os pesquisadores acreditam que o evento de branqueamento continua ganhando força e pode em breve se tornar o mais difundido já registrado.
"Essa crise não acabou", diz Carvalho. "Podemos estar indo de mal a pior se não agirmos agora para reduzir as emissões de gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas."
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