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Lajedo de Soledade: A Pedra que Conta Histórias Milenares

Vista do Lajedo de Soledade e seus paredões calcários, esculpidos pelo mar há Milhões de anos

Na imensidão da Chapada do Apodi, no interior do Rio Grande do Norte, repousa um dos mais ricos Acervos Geológicos, Arqueológicos e Paleontológicos do Brasil:
o Lajedo de Soledade

Com seus paredões calcários esculpidos pelo tempo e registros deixados por civilizações ancestrais, o sítio é uma verdadeira cápsula do tempo. Ali, há Milhões de anos, o mar cobria a região, e gigantes da megafauna habitavam as cavernas que hoje abrigam pinturas rupestres e fósseis preciosos.

Mas o que hoje é reconhecido como patrimônio nacional quase foi destruído. A paisagem silenciosa escondia uma ameaça crescente: a exploração do calcário para a produção de cal. Nos anos 1980 e início dos 1990, a mineração avançava sem controle, ameaçando apagar um capítulo inteiro da pré-história brasileira.

Foi então que um grupo de visionários decidiu intervir.

Uma Missão de Resgate

A virada começou em fevereiro de 1991, quando o geólogo Eduardo Bagnoli, então funcionário da Petrobras, liderou uma expedição ao Lajedo de Soledade. Ao seu lado, os geólogos Geraldo Gusso e David Hasset, o espeleólogo Francisco William Júnior (conhecido como “Chico Bill”) e a advogada apodiense Maria Auxiliadora da Silva Maia, carinhosamente chamada de Dodora. Esta última, com raízes fincadas na terra, já vinha denunciando a destruição do lajedo.

Arara do Lajedo Soledade, a mais famosa pintura rupestre do sítio arqueológico

O Grupo organizou uma “Missão de Salvamento”, promovendo palestras e encontros com moradores da comunidade de Soledade. Na primeira reunião, mais de 300 pessoas se reuniram para ouvir falar sobre a importância histórica e científica do local onde viviam. O impacto foi imediato.

Nos dias que se seguiram, o mutirão envolveu a própria população: foram limpas trilhas, catalogadas áreas arqueológicas e paleontológicas, treinados jovens como guias mirins e até criado um pequeno museu com peças doadas pela comunidade.

Durante o Carnaval daquele ano, a missão retornou ao local com mais voluntários e, novamente, a comunidade respondeu com entusiasmo. O espírito de preservação havia se enraizado.

A Fundação que Sustenta a Memória

Guia do Lajedo Soledade, obrigatório para a visita ao sítio arqueológico, falando sobre arqueologia e paleontologia

Em março de 1992, nascia a Fundação dos Amigos do Lajedo de Soledade (FALS), com apoio logístico e técnico da Petrobras. A fundação assumiu a responsabilidade de proteger, divulgar e administrar o sítio. Foi ela que impulsionou a construção do Museu do Lajedo, inaugurado no local, e que segue funcionando até hoje.

O museu abriga fósseis de preguiças gigantes, mastodontes e tigres-dente-de-sabre, além de artefatos arqueológicos e painéis explicativos sobre a formação geológica da região. Mas o maior patrimônio continua sendo a própria paisagem: cavernas esculpidas pela água ao longo de 90 milhões de anos, ravinas monumentais e mais de 30 pontos com registros rupestres em tons de vermelho, criados por povos que habitaram a região há milhares de anos.

Hoje, nomes como Adailton José Targino e Zacarias Targino de Freitas, ligados à FALS, continuam esse trabalho incansável de preservação e educação ambiental.

Educação, Turismo e Sustentabilidade


As pinturas de arte pré-histórica datam de aproximadamente 3.000 a 5.000 anos.

O Lajedo recebe entre 600 e 700 visitantes por mês, boa parte deles estudantes e pesquisadores. A estrutura de visitação foi revitalizada nos últimos anos com apoio do Instituto Chico Mendes (ICMBio), tornando o passeio mais seguro e educativo. Trilhas sinalizadas, guias locais capacitados e ações de conscientização ambiental fazem parte da experiência.

Mais que turismo, o lajedo é um instrumento de transformação. A comunidade de Soledade, que antes via a pedra como fonte de exploração mineral, hoje vê nela uma fonte de conhecimento, renda e identidade.

Dodora, que foi homenageada com a nomeação da “Ravina da Dodora” dentro do sítio, representa a força da mobilização popular que, unida ao conhecimento científico, salvou o Lajedo da destruição. Seu legado inspira gerações.

Um Exemplo para o Brasil

O Lajedo de Soledade é mais do que um ponto turístico — é um exemplo de como o patrimônio natural e cultural pode ser preservado quando ciência e comunidade caminham juntas. Em tempos em que tantos ecossistemas e registros históricos estão ameaçados, sua história nos lembra que proteger o passado é também uma forma de cuidar do futuro.

Se você ainda não conhece esse tesouro do semiárido nordestino, a visita é mais que recomendada: é um reencontro com as origens do planeta e da própria humanidade.

Serviço:
Localização: Comunidade de Soledade, Apodi (RN)
Visitação: Terça a domingo
Contato: (84) 99911-9070 | contato@lajedodesoledade.org.br


Por: José Maria Pinheiro
Fotos: divulgação

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