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Crítica | "Exorcismo Sagrado" - O trash que arranca bons sustos

Longa chega nesta quinta-feira, 10 de Feveiro, nos cinemas brasileiros / Foto: Reprodução


Um dos grandes clássicos do terror, O Exorcista, tornou-se referência e mudou a forma como os filmes de terror eram lá nos anos 70, hoje seu legado segue firme e forte como um excelente exemplo do que funciona (ou não!) dentro de uma trama sobre possessão demoníaca. O problema é que – quase 50 anos depois – é complicado inovar no gênero, uma vez que praticamente tudo já foi feito e refeito à exaustão. Resta então copiar a fórmula sem dó e justificar com o infalível “é apenas um tributo”. E é exatamente isso que Exorcismo Sagrado (The Exorcism of God) faz.

O longa de terror, dirigido pelo venezuelano Alejandro Hidalgo, chega ao Brasil pela Imagem Filmes, unindo toda a sua coragem para fazer uma valente crítica à igreja católica, mas não demonstra assim tanto empenho quando se trata de originalidade, uma vez que usa e abusa de diversas outras obras para construir não apenas o aspecto visual de sua história, como também a narrativa usada.  

O Exorcismo Sagrado traz a história do padre Peter (Will Beinbrink), que se encontra em uma situação difícil quando está frente a frente de uma garota possuída, seu mentor não chegará em tempo para realizar o exorcismo antes do corpo de Magali (Irán Castillo) sucumbir e então, resolve performar o ritual sozinho, mesmo não tendo acabado o seu treinamento. Após 18 anos desse dia, o padre é o responsável por uma comunidade carente no México, sendo tratado como homem santo, mas escondendo o seu sacrilégio durante todo esse tempo. Com pesadelos que ocorrem todas as noites, o padre é convocado para visitar uma detenta no presídio que está sob suspeita de estar possuída e será preciso enfrentar não só os seus pecados, mas o seu passado também.

Consistente em sua história, a trama se sustenta mesmo pelo mínimo essencial: bons sustos e uma atmosfera soturna que realmente envolve o espectador mais emocionado. Entre algumas referências sacanas e descaradas e alguns elementos contestáveis – para não dizer polêmicos – vai do público abraçar o trivial ou se irritar com a falta de criatividade.

É interessante como em Exorcismo Sagrado, mostram que não apenas pessoas comuns estão suscetíveis a serem possuídas por demônios, mas que dentro da própria igreja isso pode acontecer. Com cenas em que Jesus Cristo e a Virgem Maria estão possuídos por seres malignos, é possível compreender que o próprio mal expande as suas asas no que deveria ser santo e sagrado, basta apenas que haja uma abertura para que ocorra.

O elenco não é o que podemos chamar de bom, mas Will Beinbrink (It: Capítulo 2) convence como um homem em conflito consigo mesmo, amargurado pelos erros que cometeu no passado e se transforma em um condutor agradável, ainda que com limitações dramáticas. Por outro lado, Joseph Marcell (Um Maluco no Pedaço) possui grande carisma e talvez tenha o senso de humor mais cabível. De qualquer forma, o excesso de personagens coadjuvantes acaba por deixar a jornada do protagonista mais melosa e menos impactante.

E como cerejinha do bolo, o roteiro não vê amarras em questionar a religião e muito menos em “brincar” com seus estigmas. Há santos endiabrados e até mesmo um Jesus sinistro, que espalha caos e medo em todas as cenas de susto que aparece. Esse atrevimento é sensacional e arrisco dizer até mesmo singular, ainda que tenha uma fala extremamente problemática no final, ao colocar lado a lado homossexuais com “bandidos e estupradores”.

O santificado e o divino são corrompidos pelo roteiro atrevido do profano Exorcismo Sagrado, ainda que o terror esteja bem mais preocupado em replicar a fórmula de outros filmes de possessão. Toda essa bela ousadia é explanada em cenas cômicas, que se satisfaz em fazer qualquer coisa, mesmo quando poderia ser absolutamente original por conta de sua interessante descrença na religião e a audaz crítica à corrupção dentro da igreja católica. Mesmo com direção competente e sustos impactantes, não há reza que faça um roteiro trash ser inesquecível pelos bons motivos.

Longe de ser o terror do ano e contente por fazer algo minimamente bom – apesar do baixo orçamento – a única coisa sagrada aqui está no fato de como a produção se curva aos clássicos do gênero, quando sua afronta poderia render os melhores frutos proibidos que o cinema pode proporcionar. Nos resta apenas apreciar a montanha-russa e ter pesadelos com um Jesus que você definitivamente não vai querer adorar.

"Exorcismo Sagrado" chega nesta quinta-feira, 10 de Feveireiro, nos cinemas de todo o Brasil.



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Jefferson Victor

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