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Pesquisa revela realidade precária na atenção ao câncer de mama no Brasil

 


O estudo 'Panorama da atenção do câncer de mama no SUS' desenvolvido pelo Instituto Avon e Observatório de Oncologia, mostrou deterioração dos indicadores de cobertura mamográfica e estadiamento ao diagnóstico nos últimos 4 anos

Durante o 7º Congresso 'Todos Juntos contra o Câncer’, o Instituto Avon, em parceria com o Observatório de Oncologia, apresentou o estudo “Panorama da atenção ao câncer de mama no SUS”. Um dos principais dados revela que 47% dos diagnósticos são de estágios avançados, ou seja, considerados com menor chance de cura.

 O estudo foi elaborado a partir da consolidação dos registros do Sistema Único de Saúde, de 2015 à 2019, e foi desenvolvido para caracterizar a população atendida no SUS (Sistema Único de Saúde) para o rastreamento, diagnóstico e tratamento do câncer de mama. O levantamento de dados traz um panorama bastante completo da atenção à doença no SUS e também informações que apoiem a formulação e, sobretudo, a gestão das políticas de saúde voltadas ao controle do câncer de mama.

A cobertura mamográfica, que tem como público alvo mulheres entre 50 e 69 anos de idade, chama a atenção. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda aos países uma cobertura mamográfica de 70% do público alvo, mas no Brasil o número é de apenas 23% de cobertura, o que dificulta o diagnóstico precoce da doença. Outro dado mostra que entre 2015 e 2019 houve uma redução de 4% ao ano de cobertura mamográfica.

 Esse resultado se reflete nos gastos com o tratamento que, de acordo com o levantamento, representam 61% das despesas quando a doença já está em estágio avançado e 15% quando ainda em fase inicial.

O tempo médio entre o diagnóstico e início do tratamento também foi abordado pelo estudo. As pacientes do SUS no período estudado, levaram em média 45 dias para a confirmação da doença, a partir da primeira consulta com o especialista e  o tempo médio para início do tratamento, a partir do diagnóstico, foi de 83 dias considerando o primeiro procedimento cirúrgico, e esse número sobe para 113 dias considerando o tratamento ambulatorial. É importante ressaltar que no Brasil rege uma lei, aprovada em 2019, que assegura as pacientes do Sistema Único de Saúde com suspeita de câncer o direito à confirmação do diagnóstico no prazo máximo de 30 dias, mais conhecida como Lei dos 30 dias, além da Lei dos 60 dias, vigente desde 2012, que garante ao paciente com câncer ter seu tratamento iniciado em até 60 dias a partir da confirmação do diagnóstico.

Chama atenção também um dado que revela que mulheres entre 40 e 49 anos representam 50% dos diagnósticos tardios, enquanto mulheres de 50 a 69 representam 43%, o que coloca em questão as diretrizes de rastreamento mamográfico vigentes que excluem a faixa etária dos 40 a 49 anos.

 O estudo traz também um importante recorte racial, destacando que 52% dos diagnósticos tardios são de mulheres consideradas pretas e pardas, e mulheres brancas, 43%. Quando se fala em diagnóstico precoce, mulheres pretas e pardas representam apenas 19% desse cenário, enquanto mulheres brancas representam 28%, o que mostra a desigualdade de acesso dentro do próprio sistema.

  “Este estudo nos permite ter uma visão ampla e clara do acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama pelas mulheres brasileiras junto ao Sistema Único de Saúde. Também nos mune de dados para sermos mais assertivos no desenvolvimento de projetos, campanhas e parcerias buscando antecipar o estadiamento ao diagnóstico e o encaminhamento para um tratamento ágil e assertivo, aumentando assim as chances de sobrevida para a paciente do câncer de mama. Esse é o objetivo do Instituto Avon ao apoiar estudos como esse”, explica Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon.

 "O objetivo do Observatório de Oncologia é utilizar os dados governamentais abertos de Saúde para monitorar situações e promover uma transformação social. Este estudo em específico, sobre o câncer de mama, nos mostra o quanto precisamos avançar para diminuir as desigualdades regionais e entender as características e necessidades locais. Assim, as mulheres brasileiras terão acesso ao melhor tratamento, a políticas eficientes de prevenção e rastreamento e ao diagnóstico precoce, com mais chance de cura. É possível mudar esta realidade, mas primeiro é preciso conhecer aquilo que estamos enfrentando. E estudos como estes nos mostram este norte, este caminho", Merula Steagall, presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e idealizadora do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.

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Jornalismo Revista Fácil

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