Lajedo de Soledade
Resumo
O presente artigo busca apresentar, de maneira sistematizada, a trajetória histórica e cultural do Distrito de Soledade, município de Apodi/RN, desde seus primórdios até sua configuração atual. Destaca-se sua importância como um núcleo de memória, identidade, resistência e desenvolvimento comunitário, com ênfase no surgimento do vilarejo, suas primeiras famílias, a organização social e religiosa, a economia e, principalmente, a relevância do Lajedo de Soledade como patrimônio arqueológico, paleontológico e turístico.
1. Introdução
A história do Distrito de Soledade caracteriza-se pela resistência de um povo que, mesmo diante das adversidades do semiárido, consolidou uma identidade forte, marcada pela solidariedade, pelo associativismo e pela preservação do patrimônio cultural e natural. O Lajedo de Soledade, com seus registros arqueológicos e paleontológicos, tornou-se o símbolo maior desta trajetória, sendo objeto de pesquisas e ações de preservação que projetaram o distrito para além das fronteiras regionais.
2. Origens Históricas
Registro do Centro do Distrito de Soledade no ano de 1992 sendo realizado a topografia onde seria construído o Museu arqueológico
O Lajedo de Soledade é citado desde o século XVIII, com menção pioneira feita pelo padre Telles de Menezes, em 1796, no livro Lamentações Brasílicas. Posteriormente, Tristão de Alencar Araripe, em 1868, reforçou sua importância ao incluir referências às gravuras rupestres no “Olho d’água” do Lajedo. A partir do século XX, geólogos e paleontólogos como Crandall (1910) e Sopper (1923) realizaram visitas técnicas ao local.
Em 1956, Vingt-Un Rosado identificou vestígios fósseis de mamíferos no Lajedo, impulsionando um apelo por estudos sistemáticos, o que somente veio a ocorrer a partir de 1993 com a atuação da equipe de Arqueologia da UFRN, sob coordenação do professor Paulo Tadeu de Albuquerque.
3. Origem do Nome

O topônimo “Soledade” possui duas versões populares. A primeira, transmitida oralmente, remete a uma escrava chamada Feliciana Solidôncio, cuja separação amorosa teria gerado a expressão “Ai que saudade de Soledade”. A segunda versão relaciona o nome à característica geográfica do local: um espaço isolado, solitário, conforme o significado clássico do termo.
4. Fundadores e Primeiras Famílias
Adailton Targino, Ceiça Pitanga, Tôinho Bruaca (falecido), Otacílio Reinaldo, e meu pai de saudosa memória Zé Inácio
A formação social de Soledade deu-se inicialmente pela atuação de pioneiros como Marcos Alves e os irmãos Manoel da Costa Soares, Dedé Costa e Miranda Sebastião da Costa (Tião). Posteriormente, estabeleceram-se famílias que fincaram raízes na região, destacando-se os Targino, Bruaca, Nogueira, Sena e Souza cujos membros formaram extensos laços de parentesco.
A vida econômica limitava-se à agricultura de subsistência, caça e extração vegetal. Aos poucos, com o crescimento populacional, tais atividades tornaram-se insuficientes, exigindo a busca por alternativas de organização social e econômica.
5. A Chegada da Missão Rural (1955)
Adailton Targino na bibliotca do Museu do Lajedo de Soledade
Um marco fundamental foi a chegada da Missão Rural em 1955, enviada pelo governo do Rio Grande do Norte, sob a gestão de Dinarte Mariz. A equipe realizou importantes ações educativas e sociais, com destaque para a formação de grupos por faixas etárias e atividades como coral, trabalhos manuais e a distribuição de cestas básicas.
O trabalho da Missão estabeleceu as bases para o desenvolvimento de uma consciência coletiva e solidária, resultando em avanços significativos para a comunidade.
6. Fundação do Clube de Mães (1964)
Inauguração do Museu em 13 de Novembro de 1993
Em 1964, com a saída da Missão Rural, surge o Clube de Mães, com a professora Antonia Alves de Lima como sua primeira presidente. O Clube promoveu capacitações nas áreas de enfermagem, bordado, tricô, crochê, música, corte e costura, além de prestar serviços essenciais à saúde da população, como vacinação e curativos. Com a extinção do Clube de mães, entre os anos de 1984 e 1986 é criado a Associação Centro de Promoção Humana de Soledade que deu continuidade ao trabalho realizado pelo Clube de mães. O principal legado deixado pela a associação foi a sede onde hoje funciona a Escola Antonia Alves de lima no Centro do Distrito
Esse modelo de associativismo fortaleceu a organização comunitária e resultou em ações concretas para a melhoria das condições de vida local.
7. Construção de Infraestruturas Comunitárias
O Clube de Mães liderou a construção de importantes equipamentos públicos: Centro de Promoção Humana de Soledade, atual Escola Estadual Antonia Alves de Lima. O Mini Posto de Saúde, construído em 1973, Pela FUNDEVAP com apoio do padre holandês Pedro Neefs.
A Lavanderia Comunitária Joana Martins de Oliveira que ficava no centro da comunidade.
Tais obras consolidaram o protagonismo das mulheres na história local e demonstraram a força da mobilização comunitária.
8. Aspectos Religiosos e Culturais
Parte do primeiro grupo de guias. Da esquerda para direita: Claudio, Astrogildo, Pedro Holanda, Alcivan, Gildemberg e Flávio. (Foto: Adailton Targino)
No campo religioso, destacam-se as tradições católicas, com celebração da padroeira Nossa Senhora de Fátima, festas, procissões, batizados, casamentos e eventos culturais como quadrilhas juninas. As igrejas evangélicas marcam presença ativa, com atividades diversas de evangelismo, missões e ações sociais reforçando o pluralismo religioso do Distrito.
No aspecto cultural, merecem destaque o Museu Arqueológico, o Ginásio de Esportes Luiz Targino de Oliveira, o Clube Raios de Sol, e as oficinas de artesanato no Lajedo. A partir de 1990, com a criação da Associação Amigos do Lajedo de Soledade (AALS), posteriormente em 1991 transformada na Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS), intensificaram-se as ações de preservação e promoção do sítio arqueológico, hoje referência internacional no turismo científico e pedagógico.
9. Economia Local
Da esquerda para direita: Nildo, Daris, Claudete, Adailton, Alcivan, Joelma, João Batista e Goldemberg. Agachados: Zacarias e Tiago.
Historicamente, a base econômica de Soledade foi a agricultura de subsistência, complementada pela caça e extração vegetal e bem depois mineração do calcário. Com o tempo, a comunidade diversificou suas fontes de renda, destacando-se atualmente as atividades relacionadas Comércio impulsionados pelo turismo arqueológico, ao artesanato e aos serviços associados à recepção de visitantes no Lajedo de Soledade. Além do associativismo com a agricultura familiar e a agroindústria.
10. Consolidação Administrativa
Em 1997, Soledade alcançou o status de Distrito, Através de Lei Municipal o que representou o reconhecimento de sua importância socioeconômica e histórica no contexto do município de Apodi.
11. Considerações Finais
A história de Soledade exemplifica o potencial das pequenas comunidades rurais do semiárido brasileiro para transformar adversidades em oportunidades. O desenvolvimento local está intrinsecamente ligado ao espírito coletivo e à valorização do patrimônio cultural e natural, que, preservado e promovido, assegura a memória e projeta o futuro da comunidade.
Referências Basbaum, Leôncio. O objetivo da História.
Menezes, Telles de. Lamentações Brasílicas, 1796.
Araripe, Tristão de Alencar. Cidades Petrificadas e Inscrições Lapidares do Brasil, 1868.
Rosado, Vingt-Un. Relatórios Técnicos, 1956.
Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS) – Relatórios institucionais.
Adailton José Targino
Professor
Presidente do Conselho Técnico e Científico da FALS
Secretário Adjunto de Turismo de Apodi
Por Adailton José Targino
Fotos: Divulgação
Distrito de Soledade, Apodi/RN – Maio de 2025
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