Crítica | “Bom Menino”: O terror mais sensível do ano vem contado pelos olhos de um cachorro

Longa estreia no dia 30 de Outubro nos cinemas brasileiros / Foto: Divulgação

Nem todo terror precisa de sangue, monstros ou possessões para arrepiar. Às vezes, basta o olhar inocente de um cachorro para revelar o que há de mais sombrio no coração humano. É com essa ideia que Bom Menino, novo filme de Ben Leonberg, conquista o público e a crítica, entregando uma experiência tão assustadora quanto emocional.

A trama acompanha Todd e seu fiel companheiro Indy, um cão que o segue para uma casa de campo isolada após uma perda dolorosa. Enquanto o homem tenta recomeçar, Indy começa a perceber presenças que não deveriam estar ali. O curioso é que tudo é mostrado sob a perspectiva do cachorro, o que muda completamente a forma como sentimos o medo.

E aqui está a mágica do filme: nós, espectadores, passamos a ver o mundo como Indy — atentos a ruídos, sombras e cheiros invisíveis. O terror nasce do instinto, daquilo que não se entende mas se sente. Em vez de sustos fáceis, o diretor aposta em silêncios tensos, enquadramentos baixos e uma fotografia que mistura o real e o onírico. O resultado é uma imersão desconfortável e, ao mesmo tempo, profundamente tocante.

Há também uma camada emocional poderosa. Bom Menino fala sobre luto, solidão e lealdade, e faz isso sem cair no melodrama. O vínculo entre Todd e Indy é o coração do filme — e é justamente essa relação que torna o terror mais triste do que violento. Quando o perigo se aproxima, não tem como não torcer (ou chorar) pelo cão que só quer proteger o dono.

Claro, o filme não é perfeito. Em alguns momentos, o ritmo desacelera demais, e certas soluções de roteiro soam previsíveis. Mas nada disso apaga o impacto da proposta. É raro ver um terror que arrisque tanto e ainda consiga emocionar.

Com 95% de aprovação da crítica internacional, Bom Menino é uma daquelas produções que ficam na cabeça depois dos créditos. Não apenas pelo medo, mas pela sensação agridoce de ver o mundo pelos olhos de quem ama incondicionalmente.