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Crítica | "Pedágio" traz um humor ácido e a hipocrisia humana de forma crua

Longa de Carolina Markowicz estreia no dia 30 de Novembro nos cinemas / Foto: Divulgação



"Toll" ou "Pedágio", é o mais novo filmaço da diretora, roteirista e produtora Carolina Markowicz, e mesmo não ter sido escolhido para representar o Brasil para uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional 2024, tem seu brilho próprio e é leitura audiovisual contemporânea obrigatória. 

"PEDÁGIO" ficou entre os seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar 2024, mas acabou sendo escolhido o novo filme documentário do Diretor Recifense e Pernambucano Kleber Mendonça Filho, "RETRATOS FANTASMAS" - Isso não é demérito nenhum, pois "PEDÁGIO" também teria sido um ótimo representante do Brasil no Oscar. Pois qualidades, atributos e elogios não faltam ao filme - muito pelo pelo contrário... ele transborda aos olhos e transcende a tela.

O longa foi exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, é o segundo longa-metragem da carreira da Diretora Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento, e já tínhamos visto e testemunhado isso no excelente "CARVÃO".

O filme também foi um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023, onde recebeu quatro prêmios Redentor no Festival sendo: Melhor Ator, para Kauan Alvarenga; Melhor Atriz, para Maeve Jinkings; Melhor Atriz Coadjuvante, para Aline Marta Maia; e Melhor Direção de Arte, para Vicente Saldanha - bem que poderia ter levado também Filme, Direção, Fotografia e roteiro original.

O elenco ainda conta com nomes de peso como o de Thomás Aquino de "BACURAU", Erom Cordeiro de "A DIVISÃO", Caio Macedo de "A NOITE AMARELA" e outros.

Com narrativa linear bem contada e amarrada, a história do filme se debruça sobre uma mãe solteira, Suellen "interpretada pela sempre talentosa e competente Maeve Jinkings", que já trabalhou com a diretora Carolina Markowicz e deu um outro show a parte em "CARVÃO" - aqui a atriz da vida a uma cobradora de pedágio, que percebe que pode usar o seu trabalho para fazer uma renda extra ilegalmente. Mas é tudo por uma causa "nobre": financiar à caríssima cura gay gospel do seu único filho, em umas dessas igrejas evangélicas caça niqueis e ignorantes para extorquir com o dízimo e outras formas de armação / amarração para fidelizar o cliente, e assim o transformar ou deixá-lo prisioneiro, fiel e refém.

Foto: Divulgação


O GRANDE trunfo do filme é o ator Kauan Alvarenga, que interpreta "Tiquinho", o filho da Suellen - o até então o desconhecido ator, é uma verdadeira força da natureza, uma "pérola negra", que precisa e vai ser lapidada pela arte, cultura, cinema, TV, séries e etc... E ainda vamos ouvir muito falar desse garoto, que não prometeu nada e entregou tudoooo... seu personagem tem um gosto agridoce de delicadeza e fúria, raiva e sensibilidade, doçura e deboche, que está perdido dentro do seu próprio universo, mundo e casa... A procura de si mesmo e principalmente de resgatar o amor da sua mãe.

Entre outros vários pontos positivos do filme, tem um bem acertado: o foco do longa nos dois protagonista "mãe e filho", que nunca são tratados como rivais ou antagonismo - tem suas diferenças, arestas, brigas... mas que no fundo se completam e se unem pelo amor incondicional.

De um lado temos a mãe: "ignorante", que se deixa levar por conselhos alheios, duvidosos, e sem fundamento, onde não aceita a orientação sexual e de gênero do seu filho, e faz o que talvez para sua realidade e meio seja o mais fácil para entender "demoniza".

Do outro lado e do outro lado do abismo...  temos o filho: jovem em formação de personalidade, um barco a deriva, se descobrindo e descobrindo o mundo ao seu redor, e que tem seu momento de paz e realização no seu "infinito particular" com as divas da música internacional, que ainda estuda e trabalha para ajudar a mãe em casa e assim continuar existindo para a mesma e para o mundo... ou para pelo menos para o "seu mundo".

O personagem de Kauan "tiquinho" é um daqueles personagens que é a foto mais fiel de "um grito no meio da multidão ou da escuridão, onde ninguém escuta ou ver", um verdadeiro vulcão humano ambulante prestes a explodir por dentro e transbordar tudo que está contido, calado, reprimido, represado pra fora, explodir e atingir a todos ao seu redor - principalmente por um dos temas levantados pelo longa, que é delicado e arriscado "cura gay gospel", que bem o personagem poderia ter sido levado e cedido ao inevitável fim... su1c1d1o. E ponto.

Foto: Divulgação



Infelizmente é o que é mais comum nos dias de hoje, até por quando falamos de "cura gay", também estamos falando de saúde mental. Saúde mental frágil de quem se propõe a aplicar esse ato de tortura, e mais ainda a quem imposto e obrigado a passar e fazer essa bizarrice.

Verdade que com isso o longa poderia até trazer ao seu favor o "baseado em fatos reais" - mas não! O filme e roteiro preferiu ir por outro viés "thanks god". 

Chega de tragédia, chega de filmes que trazem a comunidade LGBTQIAPN+ sendo torturadas, perseguidas, massacradas e mortas, chega de tragédia! Já temos e vemos isso aqui do lado de fora da tela, todos os dia e a toda hora a olho nu - sem querer romantizar... o filme da Carolina nos mostra um outro prisma. Onde diante de um tema tão sensível “Pedágio” traz um misto de drama e humor ácido ao expor de forma caricata, divertida, realista e necessária... a hipocrisia e o preconceito de parte da sociedade em face da comunidade LGBTQIAPN+.

O subtítulo de "PEDÁGIO" bem poderia ser "IGNORÂNCIA É CONTINUAR QUERENDO NÃO SABER", e se dissesse que o filme seria baseado em fatos reais... muita gente acreditaria, inclusive aquelas que acharam, "lotaram os cinemas", e que foram enganados pelo filme "O SOM DA LIBERDADE", onde o único fato real é qué: o dito fato real do filme.. é de fato fake. 

Em "PEDÁGIO" o amor vence e nem tudo precisa ser dito, explicado, narrado ou verbalizado...apenas sentido, já basta e está tudo bem.

O filme estreia dia 30 de novembro em todos os cinemas do Brasil.

Por @well.nchagas

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Redação Fácil

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