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Lançada a Biografia da Ucraniana-Brasileira que sobreviveu ao Holodomor e ao Nazismo - PR

Em Curitiba, é lançada a Biografia da Ucraniana-Brasileira que sobreviveu ao Holodomor e ao Nazismo

Os primeiros exemplares do livro, o público presente e a participação dos autores ilustram a noite festiva para a comunidade ucraniano-brasileira do Paraná, na Livraria Da Vila (Batel). [Foto: Divulgação]

Na última sexta-feira, Curitiba sediou um marco simbólico para a comunidade ucraniano-brasileira do sul do país. O livro "A Fortaleza de Wira", fruto da parceria entre os historiadores Anderson Prado e Henrique Schlumberger Vitchmichen, foi lançado na Livraria Da Vila (Bairro Batel), em evento promovido pela Editora Intersaberes. Importantes representantes da comunidade ucraniana no Brasil estavam entre os mais de 80 presentes no evento - como o cônsul da Ucrânia em Curitiba, Dr. Mariano Czaikowski, e o professor da Faculdade São Basílio Magno (FASBAM), Pe. Domingos Miguel Starepravo.

A noite foi marcada por honrosas homenagens à história de Dona Vera Kloczak que, hoje aos 98 anos, é a única sobrevivente do Holodomor de que se tem registro na América Latina. A programação, iniciada às 19h30, foi aberta com a apresentação do autor Anderson Prado (pós-doutor especialista em estudos sobre conflitos do Leste Europeu) e do coautor Henrique Schlumberger Vitchmichen (especialista em História, Imprensa e Imigrações Eslavas para o Brasil), mediada por Felipe Bueno (gerente comercial da Editora Intersaberes). Autor e coautor conduziram a apresentação de seus projetos de pesquisa e um bate-papo com o público sobre o processo produtivo da obra, seguido de sessão de autógrafos.

As filhas de Dona Vera protagonizaram participação especial no evento. A Sra. Tânia Kloczak, presente no local, fez a leitura de uma carta sobre as experiências vivenciadas pela mãe; a Sra. Ludmilla Kloczak participou via Google Meet partilhando a emoção de ver a trajetória da mãe eternizada em livro.

Por fim, Kelley Vieira Ambrósio (representante da Rede Cultura e da TV Profissão) apresentou o teaser promocional do documentário "Ucrânia, Memória da Fome", também lançado em outubro de 2022, que retrata a história do Holodomor através dos relatos da Dona Vera.

Toda a comunidade ucraniano-brasileira foi contemplada, nesta noite, com a partilha de histórias de luta, resiliência, perdas, encontros e afirmação inequívoca da vida em face da barbárie.

Vera: a infância e a fome

Aos 8 anos de idade, Dona Vera já testemunhava testemunhar eventos violentos de dimensões histórico-mundiais. Entre 1931 e 1933, a Ucrânia (integrada à União Soviética) era assolada pelas políticas econômicas stalinistas que deram base ao Holodomor - "a Grande Fome", ou "a Fome-Terror". As coletivizações do governo Stalin permitiam o confisco compulsório da produção agrícola, causando a morte de 6 Milhões de camponeses em um dos maiores genocídios do século XX.

Enquanto criança, Vera Kloczak presenciou a morte de familiares, vizinhos e membros de sua comunidade por fome e inanição.
"Dona Vera é uma história ímpar para compreendermos o impacto desses eventos na vida das pessoas. Suas próprias identidades e visões de mundo são colocadas em cheque e profundamente descaracterizadas, distorcendo não somente a realidade e o tempo de Dona Vera, mas das gerações que se seguiram" salienta Dr. Prado, sobre a brutalidade dos eventos relatados.
O absurdo número de 12 mil pessoas mortas por dia, durante o inverno de 1933 nos campos ucranianos, atesta a gravidade da catástrofe humana desencadeada pelas políticas Stalinistas.

O Nazismo e o Sofrimento Ucraniano

Aos 18 anos, Vera Kloczak foi levada como prisioneira de guerra pelas tropas alemãs que invadiram o Leste Europeu. Foi encaminhada como "escrava branca" (por não ser judia) para a Alemanha e, depois, para a França, onde foi obrigada a permanecer nos campos de trabalhos forçados e cavar trincheiras antitanques. Ao fim da guerra, Dona Vera ainda se abrigou em um campo de refugiados na Alemanha, temendo as represálias stalinistas endereçadas aos "traidores" que permaneceram na nação germânica durante o conflito.
"Vera teve sua própria identidade em formação abalada, vivendo sob a fome intensa e conhecendo a desolação dos campos ucranianos na infância, foi desgarrada de sua família como prisioneira de guerra pelas forças nazistas alguns anos depois. Durante anos teve que sobreviver nas mais remotas condições em uma terra estranha e em meio aos seus captores que a viam mais como um objeto descartável do que como um ser humano em sua plenitude", comenta Dr. Prado, que colheu depoimentos da sobrevivente ao longo de 7 anos de pesquisa.
O livro "A Fortaleza de Wira" já está disponível para venda em todo o Brasil. Leitura indicada tanto à comunidade acadêmica especializada quanto ao público geral, por registrar com minúcia e humanidade uma vida marcada pela resistência.
"Acreditamos que a comunidade ucraniano-brasileira terá muito o que pensar e absorver da obra, pois a trajetória de Vera está intimamente ligadas aos principais acontecimentos que acometeram a Ucrânia do século XX, e a própria trajetória dessa comunidade em terras brasileiras, sendo um elo que une muitas histórias e pessoas", sugere o coautor Henrique S. Vitchmichen.

Ficha Técnica

Livro: A Fortaleza de Wira
Autor: Anderson Prado e Henrique S. Vitchmichen
Número de páginas: 214
ISBN: 9786555170559
Formato: brochura
Dimensões: 1.1 × 16 × 23 cm
Preço: R$79,00
Editora: Intersaberes


Sobre os Autores

O autor Anderson Prado é pós-doutor pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em estudos sobre conflitos do Leste Europeu. Autor de diversas obras, entre elas, "Diversidade étnica e cultural no Paraná", "Foucault: histórias de poder" e "Holodomor (1932-1933): repercussões no jornal ucraniano-brasileiro Prácia".

O coautor Henrique Schlumberger Vitchmichen é mestre em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e especialista em História, Imprensa e Imigrações Eslavas para o Brasil. Tem vários artigos publicados sobre os temas; atualmente, dedica seus estudos à relação dos conflitos no Leste Europeu e aos processos de refúgio durante a Segunda Guerra Mundial.
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MARIO PINHO

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